Conhecer a história do Vale do Paraíba, em São Paulo, é fazer uma viagem no tempo. Situada entre a Serra da Mantiqueira e a Serra do Mar, nossa região serviu de caminho de tropeiros rumo ao interior do país, promovendo a sua colonização com a fundação de grande parte das cidades de Minas Gerais. Daqui partiram os bandeirantes, desbravando trilhas no lombo de mulas, fazendo a chamada rota dos guaianases. Esses paulistas, que eram mestiços de portugueses com indígenas, tinham o conhecimento, não apenas dos milenares caminhos dos nativos, como também das suas técnicas de sobrevivência nos sertões.
Com a descoberta de ouro de aluvião, o trânsito de pessoas, animais e gêneros entre o litoral e a região intensificou-se. Segundo o historiador Capistrano de Abreu, ao final do século XVII, em torno da atual cidade de São Paulo, existia uma área que prosperava com um considerável número de vilas, entre elas Mogi das Cruzes, Taubaté e Guaratinguetá. É dessa época que é registrado o início do povoamento de Jacareí com o nome de Villa Nossa Senhora da Conceição da Parahyba, pela iniciativa de Antônio Afonso e seus três filhos, mas há estudos recentes que mostram que a fundação de Jacareí foi feita por um grupo de moradores, liderados por Diogo Fontes. A Carta Régia, de 27 de outubro de 1700, que criou a Comarca de São Paulo, alterou o nome para Villa da Parahyba. Elevada à Vila em 1653, Jacareí tornou-se cidade em 03 de abril de 1849. Foi com o ciclo do café no Vale do Paraíba que a cidade conheceu o desenvolvimento, deixando de ser somente um local de parada e de abastecimento de mercadorias para os que aqui passavam rumo à corrida do ouro em Minas Gerais. Acredita-se que o núcleo do povoamento foi a área ao redor da Capela do Avareí, sendo seguido para as proximidades do Largo da Matriz, que foi urbanizado na década de 30 do século passado. É aí que se realiza anualmente a festa da padroeira da cidade, Nossa Senhora Imaculada Conceição.
Merece destaque especial o prédio do Solar Gomes de Leitão, construído em 1857, já que foi ali que aprendi a ler e a escrever, em 1970, quando funcionava a Escola Estadual de Primeiro Grau Coronel Carlos Porto. Com características arquitetônicas ecléticas, o casarão de taipa de pilão concilia elementos dos estilos neoclássico e colonial. Tombado em 1980 pelo CONDEPHAAT, seu processo de recuperação durou mais de dez anos. A edificação, atualmente denominada Museu de Antropologia do Vale do Paraíba (MAV), reviveu suas noites de glória, em 1992, quando foi reaberta ao público, com a encenação da chegada de seu primeiro proprietário, o bem sucedido fazendeiro de café e um dos principais acionistas na construção da Estrada de Ferro São Paulo - Rio, João da Costa Gomes de Leitão. Recomendo uma visita ao site http://www.anpf.com.br/histnostrilhos/historianostrilhos14_janeiro2004.htm que nos conta a importância desse personagem para a história da ferrovia brasileira. Uma outra curiosidade encontrada na pesquisa que fiz pela internet é que, em uma das várias reformas realizadas no período em que o MAV serviu de grupo escolar, temos a figura do engenheiro e escritor Euclides da Cunha como responsável pela supervisão das obras. Sob a administração da Fundação Cultural de Jacarehy, o atual acervo do museu conta com peças de cerâmica figurativa, imagens paulistinhas, quadros de pintores primitivos, presépios, esculturas e bonecos.
É parte dessa história de Jacareí que você pode ver resumida no clip realizado pela Cristina Brum, com as fotos de autoria do Laerte Pupo, um retratista incansável do cotidiano da nossa cidade.