Acabamos de sair de mais uma eleição municipal.
Para muitos, foi apenas um compromisso que consta em nosso calendário político. Para outros, que ainda acreditam, como Hannah Arendt, que toda ação é política e que só podemos mudar o nosso mundo, via participação política, foi um período de agitação, de defesa de pontos de vista, de argumentação, de debater idéias e ideais. Há também os apaixonados, sejam os mais preparados intelectualmente ou os mais necessitados, que, em suas vidas repletas de paixão pela causa pública e pelas dificuldades, fazem desse período uma festa de cores, de palavras de ordem, de reativação de símbolos cívicos, de uso, às vezes, carregado, de adesivos e bandeiras e tudo o mais que a atual legislação eleitoral permitiu - o que não foi muita coisa para quem acompanha a evolução das normas eleitorais em nosso país, numa atitude muito consciente e responsável das autoridades - diga-se, de passagem -, as músicas (jingles) que são criadas somente para essa época de briga na busca do voto, no corpo-a-corpo; enfim, aqueles que se expõem e saem às ruas para trabalhar por esse ou aquele candidato.
No entanto, há, justamente, na classe dita política, uma falta total de autocrítica e acham e agem (o que é pior) como se tudo fosse fácil ou totalmente previsível. Para ela, ganha aquele que está liderando as pesquisas e ponto final. Avaliar o quadro partidário local, com suas peculiaridades (e até aberrações em coligações racionalmente inimagináveis), o eleitorado da cidade e as necessidades da população naquele momento histórico da cidade é conversa para boi dormir. Números são absolutos, para esse grupo de pessoas. Para elas, 1 + 1 é sempre igual a 2. Ignoram que a política é uma ciência humana e não exata.
Pois bem, em Jacareí, o candidato a prefeito e líder das pesquisas perdeu.
Com uma das muitas características típicas da cidade, o dia 6 de outubro de 2008, ao contrário do que se viu em outros lugares, foi de desânimo total. Via-se no semblante das pessoas, nas ruas, nas lojas, nas calçadas, no shopping. Um quê de não entendi o que aconteceu e por que deu zebra pairava no ar.
Sim, sociólogos, meus colegas de profissão, a culpa sobrou, primeiramente, para os institutos de pesquisa. Não são sérios, foram comprados, estavam a serviço dos inimigos políticos e da elite dominante da nossa cidade e da região, bradaram os conhecedores da política jacareiense. A pesquisa era mentirosa. A famosa frase: "- Alguém te entrevistou, nessas eleições? E sua mãe, foi abordada em casa por alguém de alguma empresa de pesquisa? E aquele seu sobrinho que trabalha, lá no bairro do meu cunhado, ele foi entrevistado?", voltou a ser disparada, como fazem, freqüentemente, nos anos consecutivos à publicação do Censo, pelo IBGE.
Para resumir, ficam dando cabeçadas para achar um culpado (recorro, novamente, a essa palavra, porque ela é a que mais dá significado mesmo, não se fala em responsabilidade pela perda da eleição e, sim, em culpa) ou culpada e nada de olharem o que está na cara: perdeu-se por incompetência política, pela visão estreita das alianças firmadas pela chamada oposição, pela falta de propostas que fossem ao encontro dos anseios da maior parte da população, pela ausência de planejamento, pelo descrédito na classe política dirigente do nosso país (são tantas denúncias divulgadas em jornais nacionais, dia após dia), pela aceitação maciça ao governo Lula, pelo desconhecimento de quem era quem, como candidato diferenciado, no que diz respeito ao programa de governo e sua aplicação para a resolução dos problemas da cidade, pelo frio que afastou boa parte das pessoas que não compareceram aos comícios, pelo simples fato de que, hoje em dia, os comícios não atraem mais gente como outrora, pelo já-ganhou antecipado, etc.
É duro quando não se quer enxergar o que se apresenta, a olhos vistos, o que se constatou nas urnas, o que as pesquisas qualitativas e quantitativas indicavam: o caso era sério e requeria cuidados de emergência, alertou-se (e muito) nas últimas semanas.
O doente tinha febre e não era bom sinal.
Infelizmente, mudar de comportamento, ser mais aberto ao diálogo, ter um tempo para pensar nas tomadas de decisões realmente importantes, aceitar os próprios limites e defeitos é algo que nem todos têm. E isso faz a diferença.
Em Jacareí, fez. Mas a culpa, caros blogueiros, foi do termômetro.
Foto do termômetro: http://alinhavos.blogspot.com/2006_09_01_archive.html